Resolvi participar de um fórum de debates sobre a criação do Cartão Recomeço (apelidado Bolsa Crack). Mesmo reconhecendo um sem-número de ressalvas no projeto, confesso que fiquei estarrecida com as declarações feitas pelos participantes. Por isso, faço questão de transcrever as “pérolas” e as considerações que fiz diante de cada uma delas.
PÉROLA 1: “VÃO FAZER FESTA DO APÊ COM O DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS”.
Para os censores tributários de plantão vale um esclarecimento: o dinheiro não será dado ao usuário ou à sua família. O repasse ocorrerá do cofre público para as instituições de cadastradas, que serão fiscalizadas continuamente. Não tem caráter de “renda”, logo não deve ser desviado da sua finalidade.
PÉROLA 2: “ACHO INJUSTO. OS CIDADÃOS DE BEM SOFRENDO E ESSES DROGADOS GANHANDO BOLSA ‘NO MOLE’ DESSE JEITO?”
O Poder Público não está premiando o vício, mas sim fazendo valer o seu papel na assistência à população. Afinal, as verbas públicas não são destinadas apenas aos “homens de bem” (categoria utópica cada vez mais esvaziada, já que resulta da autopromoção hipócrita da qual se valem aqueles que desejam estabelecer uma clara distinção valorativa em relação ao outro). O direito à dignidade humana deve existir para todos e cabe ao governo, em suas mais distintas instâncias, promover as condições para que a cidadania seja vivenciada em sua plenitude.
PÉROLA 3: “NÃO VAI ADIANTAR NADA”.
Obviamente, a desintoxicação é apenas o começo. O projeto tem caráter emergencial e não excluí a necessidade de mais investimentos no combate ao tráfico, bem como a criação de programas de profissionalização e reinserção no mercado de trabalho (para diminuir os índices de reincidência) e um acompanhamento familiar a fim de que o indivíduo persista sem retornar ao vício.
PÉROLA 4: “PENSO QUE ISSO É UM ABSURDO. A PESSOA ESTÁ NESSE MUNDO POR QUERER. ESCOLHA DELE, ENTÃO QUE SE CUIDE”.
(Se essa lógica imperasse, deveriam ser entregues à própria sorte aqueles que tentaram suicídio já que eles escolheram abrir mão da própria vida, certo?). Precisamos reconhecer que a dependência química é uma DOENÇA progressiva e potencialmente fatal. Além da devastação física e emocional, os usuários de drogas têm mudanças de comportamento que podem levá-los à insanidade e à práticas criminosas. É considerada multifacetada, pois atinge o indivíduo em corpo, mente e espírito. Ainda que a primeiro contato com a droga seja uma questão de escolha, a condição de vulnerabilidade do usuário frente ao vício exige uma intervenção externa e um tratamento contínuo e oneroso (que muitas famílias não têm condições de custear).
PÉROLA 5: “VOU COMEÇAR A USAR UMAS PEDRAS, TÁ LOUCO? 1.350 PILAS POR MÊS!
Não é necessário usar “umas pedras”. Afinal, nessa fala há um claro exemplo de uso do ópio mais alucinógeno de todos: a ignorância.
Por fim, a intervenção mais insólita... E o troféu “Anta de Ouro” vai para:
“ELES (os pobres) VÃO TER FILHOS E DROGÁ-LOS DE PROPÓSITO”.
------ Hãm? Acuma? #chocada
Saí então temporariamente da discussão para resguardar um pouco da minha crença no bom senso alheio... Mais tarde tem mais!
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