Nada dói mais do que o abandono. Quando nos
voltamos para alguém e suplicamos “me dê a sua mão”, esperamos que o
outro (ainda que não motivado pelo amor, mas impelido pela natural solidariedade
humana) parta em nosso socorro, pois temos o estranho hábito de pautar
nossas expectativas em relação aos demais a partir daquilo que faríamos
se ocupássemos o mesmo lugar. Ledo engano.
Decepcionamo-nos
porque o julgamento que fazíamos do nosso par cai por terra. Afinal, a
fantasia forja a ideia de que o objeto do nosso afeto sempre será
virtuoso, solidário, nobre e generoso. Consternador é perceber que essa
imagem se desfaz nas brumas da realidade. Como compôs a cantora e
poetisa estadunidense Jewel, o mais provável é que nossos anseios apenas
representassem o reflexo de nossas mentes solitárias querendo o que
faltava em nossas vidas.
O sofrimento advindo dessa percepção
é viciante. Embora saibamos que precisamos abandonar a desolação – já
que a felicidade é questão de atitude e não mera dádiva concedida pelo
destino- não raras vezes prolongamos indefinidamente nossos lamentos e
ostentamos a autocomiseração como bandeira. Queremos de volta a utopia,
mesmo sabendo da sua insustentabilidade diante daquilo que já
experimentamos. E o pior de tudo? Percebemos que a paixão se mantém
apesar de retirado o véu da idealização.
Lutamos em vão numa
tentativa de seguir associando a existência à perfeição dos mais belos
sonhos. Entretanto, a verdade já foi descortinada e as antigas quimeras
estão mortas. Fato: os corações virtuosos estão cada vez mais raros e,
provavelmente, os poucos existentes são submetidos aos mesmos
desencantos que nos acometem. Resta-nos preservar (embora precariamente)
a nossa essência. Precisamos dar adeus à Alice, mas seguir trilhando a
“estrada de tijolos amarelos” em busca de um frágil e breve, contudo,
único e genuíno estágio de êxtase... Apesar de adversa e cruel, a
realidade pode vir a superar as lindas mentiras que sustentaram nossos
castelos de ilusões. Que a esperança no porvir também não nos desampare!

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