terça-feira, 27 de novembro de 2012

MARIA DO BAIRRO NO DIVÃ (PARTE III)


TEMA: A MORTE DO CONTRADISCURSO FEMINISTA?




       (Imagem disponível em < http://www.intoleravel.com.br/2011/07/28/feminismo-igualdade-ou-superioridade>. Acesso: nov. 2012) 


No decorrer da história, nós mulheres rompemos o silêncio e projetamos nossas reivindicações na esfera pública. Como resultado direto da nossa inserção no mercado de trabalho e do advento da pílula anticoncepcional (que permitiu a experimentação sexual desvinculada da procriação), as barreiras entre os gêneros foram derrubadas e o determinismo biológico que “engessava” os papeis sociais do homem e da mulher enfraqueceu. Entretanto, ainda hoje, mesmo nos círculos acadêmicos, persiste um conservadorismo hipócrita.

Reconhecemos a moda como uma construção social historicamente situada que, desde o as famosas saias volumosas e cinturas marcadas de Christian Dior até a incorporação dos clássicos trajes masculinos de Yvez Saint Laurent, proliferou distintas identidades femininas numa profusão de linguagens e contrastes. Entretanto, como bem resumiu Simone Beauvoir, os homens dizem ‘as mulheres’ e elas usam essa palavra para  designarem a si mesmas. Portanto, acabamos reproduzindo discursos chauvinistas que nos desvalorizam e anulam as conquistas históricas que já alcançamos. Libertamo-nos dos espartilhos, mas vivemos aprisionadas pelas amarras das conveniências e mascaramentos da sociedade.

Diante dessa reflexão e como fruto de experiências recentes, cabe aqui um esclarecimento: AINDA QUE ESTEJA USANDO UMA MINISSAIA ‘CRASH ANIMALE PRINT’ E UM SALTO AGULHA, ISSO NÃO SIGNIFICA LIVRE ACESSO AOS HOMENS, TAMPOUCO UMA AFRONTA ÀS DEMAIS MULHERES. Uso aquilo que quero e que é adquirido com a minha força de trabalho. Não vestirei trajes sacros para denotar pureza, nem me esconderei atrás de óculos de aros de tartaruga para sugerir intelectualidade. Se a valoração que me atribuirão for negativa, paciência! Para manter meu bem-estar e um convívio harmônico precisei aprender a lidar com a visão de mundo rasa de alguns...

Concluo com uma declaração de uma escritora francesa chamada Anaïs Nin que bem resume aquilo em que acredito: “Me nego a viver em um mundo ordinário como uma mulher ordinária. A estabelecer relações ordinárias. Necessito do êxtase. Não me adaptarei ao mundo. Me adapto a mim mesma”.
(Ana Paula Bacelar)

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