terça-feira, 4 de março de 2014

MARIA DO BAIRRO NO DIVÃ: RECONHEÇA-SE!

(http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=300)

Hoje refletia sobre o conto “O espelho”, de Machado de Assis. Nele, o arguto escritor fala sobre a existência de duas almas: uma interior e outra exterior. E, em dado momento da narrativa, expõe que nossa alma exterior é, em certa medida, volúvel, mutável e migra de destino. Podemos ressignificar nossa essência num objeto (materialismo das ambições humanas) e, por vezes, transferi-la para outra pessoa (hipersensibilidade emocional??). Quão perfeito é esse raciocínio!

Muitos são os momentos em que nos esvaziamos e atribuímos ao outro o sentido da nossa existência e a possibilidade única de felicidade. Nesse processo, negligenciamos nosso corpo e nosso espírito. E, se o detentor da nossa “alma exterior” decide partir, tal como Jacobina (personagem machadiana), nosso reflexo se torna turvo e apenas na lembrança de momentos idos (e não mais vivenciados) somos capazes de enxergar uma vez mais nossa autoimagem.

Nosso organismo se deteriora, pois não dedicamos a ele a atenção de que necessita e, assim, nos boicotamos e, pouco a pouco, fenecemos. Urge, pois, que nossa alma exterior, bem como a interior habitem o invólucro que tão misericordiosamente nos foi concedido por Deus. Eis a lógica daquilo que conhecemos como “AMOR PRÓPRIO”. Repudie pensamentos negativos, comparações, autodepreciação, inseguranças, depressão e ansiedade. Seja um obstinado combatente da exalação contínua da alma exterior e, acima de tudo, não a perca! O próprio Machado alerta: "...casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira". Preservando-nos garantiremos que, ao mirarmos o espelho, veremos imagens especulares e não fantasmas de nós mesmos e escárnios de lembranças...

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

CRÔNICAS DE UMA CEARENSE EM GYN - O RETORNO

Episódio de hoje: Mirou na Barbie e acertou no Curupira

5h45min. Segunda-feira. A melodiosa voz da diva Rihanna toca em uníssono em três celulares anunciando um novo dia. Acordo disposta, loira e fagueira. Ansiosa para dispender energia na digna missão proletária que me cabe. Depois de ministrar aulas em duas escolas, elaborar uma prova e visitar a terceira instituição, resolvo dedicar algumas horas à necessária manutenção de meus hábitos peruísticos. Missão da tarde: unir com queratina alguns fios loiros das minhas recém-adquiridas madeixas de Barbie Rapunzel. Não poderia estar mais feliz.
 Depois de horas de expectativa, minha querida “assessora para suprimentos capilares” (leia-se cabeleireira) quase verte vômito nos meus cabelos e pede para interromper o atendimento. Embora contrariada, aceito sem grandes alardes (afinal, sou um ser de luz e me compadeço diante da dor alheia). Resolvo então lanchar e, depois de usar o wi-fi do estabelecimento sem a menor moderação e de consumir calorias (não sem culpa), descubro que há de tudo um pouco na minha bolsa. Menos a carteira e o dinheiro para pagar a conta. Olho para a francesinha em minhas unhas e visualizo seu desgaste enquanto lavo pratos para sanar a dívida do Habib's (suntuosos R$6,80). 

Depois de deixar um documento, lançar meu olhar suplicante para a atendente e assumir um ar de humildade e de subserviência (que não me caem bem), enfrento um trânsito caótico, busco a tal carteira, pago a conta e ainda tenho que sobreviver uma vez mais ao engarrafamento enlouquecedor e à chuva para retornar ao meu amado lar. E o mais desesperador? Só agora percebo que o trabalho inacabado deixou uma mecha laranja na minha longa cabeleira. Pronto. Agora pareço uma adolescente que resolveu colorir os fios com papel crepom. Ainda bem que o carnaval está próximo e posso alegar que adotei um visual temático. Estou fantasiada de Curupira pelos próximos dias... Alicia Keys já pode cantar para mim: "this girl is on fire..." #socorro!

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Crônicas de uma cearense em Gyn

Episódio de hoje: Meu momento "dãnnnnnnnn"



Passei de carro em uma rua movimentada e vi um belo prédio ostentando a seguinte faixa: PROMOÇÃO - HIDRATAÇÃO, CORTE E UNHAS POR R$ 20,00. Meus olhos marejaram de emoção, vislumbrei uma tarde de beleza e decidi repetir o percurso no dia posterior, anotar o número do telefone e marcar uma hora. Qual não foi minha surpresa quando, na manhã seguinte, percebi que mais um item integrava a tal "promoção": limpeza de ouvido (aí pensei: "uai, mas isso eu sei fazer sozinha!"). Desconfiada, olhei para a fachada e, finalmente, desvendei o mistério... Tratava-se de uma loja pet shop!!!!!! Já pensou? Como diria a saudosa agremiação de intelectuais do Bonde do Tigrão, isso que é levar a expressão "só as cachorras" ao pé da letra. Enfim... Alegria de pobre dura pouco! #chateada!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

AVANTE, NAÇÃO FELICIANA!

Acabei de visitar o website oficial do Pr. Marco Feliciano e, passado o estarrecimento inicial, admito que minha língua viperina PRECISA entrar em ação. Na biografia do dito “representante do povo” são narrados lances dramáticos (ainda infante o pobre moçoilo foi vendedor de picolé e ganhou uma caixa de engraxate no sétimo aniversário – que dó!). No futuro, quando transformarem essa história em roteiro cinematográfico ou minissérie da Rede Record , sugiro que optem por cenários de papelão e dublagens atrasadas para melhor inserção no universo folhetinesco mexicano. Melhor do que isso só os atributos dados a Feliciano (“possuidor de caráter íntegro e reto”, “dono de uma inteligência admirável”, “líder nato, eloquente e ousado”, “caracterizado pela simpatia pessoal e pela simplicidade de trato com os demais”). Por fim, um defensor incansável de profundas convicções humanísticas (U-A-U!). Confesso que, após uma exposição de tão grandioso perfil, serei obrigada a admitir minha pequenez e lamentar a falibilidade humana que me constitui. Talvez por ser a síntese de tamanha perfeição, o nobre deputado encare como patologia toda e qualquer orientação distinta(?) da sua. A “Cura Gay” é, sem dúvida, a mais evidente prova do afinco do grande líder na construção da sociedade ideal. O projeto eugenista ariano cede espaço à ‘Nação Feliciana’. Uma nova ordem nacional (quiçá mundial) que oferecerá tratamento e cura aos homossexuais e às mulheres a chance de resgatar a sua digna condição de serva do marido. Antes que seja aprovada a “Cura Nordestina”, proponho uma imediata higienização inaugurada pela catalogação de toda a população dos nove estados por orientação religiosa, opção sexual e cor da pele. Assim, será facilitada a missão do virtuosíssimo Presidente da Comissão dos Direitos Humanos no processo de adequação, anulação ou extermínio dos 'doentes' e infiéis. Urge também que seja adotada uma saudação digna da magnitude do nosso mestre... Digamos, pois, em uníssono: - Heil Hitler! (ops!) - SALVE, PASTOR! (Ana Paula, 19/06)

O gigante acordou mesmo?

A tendência apocalíptica de alguns usuários das redes sociais me cansa... Já falam de "Estado de Sítio", impeachment da Presidente e até guerra civil. Não há a menor dúvida: são legítimos os protestos contra o alto custo dos transportes públicos, gastos excessivos com eventos esportivos e desvio de verbas. Entretanto, ao contrário do que muitos manifestam, não creio que a solução esteja na suspensão da Copa, tampouco no afastamento de Dilma. Bom seria se todos os problemas seculares relacionados à precariedade nos serviços de Educação e Saúde findassem de forma tão simples e imediatista. Portanto, antes de levantar bandeiras e reproduzir discursos de outrem, tenhamos o cuidado de analisar minimamente a lógica do que falamos. E, por favor, que não sigamos vendo a nossa realidade de forma superficial e tendenciosa. As redes sociais constituem um excelente espaço para debate, mas reproduzir posts sem compreender o conteúdo que veiculam inaugura um interessante tipo de ignorância política (e talvez a pior delas): as pessoas fingem que defendem aquilo que sequer compreendem. Como alertou o ensaísta Montherlant: a política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros. Logo, não curtir ou compartilhar ideias com as quais não coaduno, longe de evidenciar que sou "alienada" ou "burguesa" (faz-me rir!) é apenas uma forma de demonstrar que resguardo tão somente a mim a capacidade e o direito de eleger as paixões que me escravizam. #prontofalei!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Libertas quae sera tamen

Em certa altura da vida, quer por astúcia quer por instinto, percebemos que o sentimento não correspondido é um cativeiro. Nele somos encarcerados pelas nossas expectativas e lá permanecemos sofrendo às escuras. Vez por outra nos é concedida a graça de um encontro furtivo e agradecemos resignados por migalhas de atenção e de afeto. Acreditamos que as correntes que nos prendem são inquebrantáveis e encaramos com temor o futuro além das grades. Aprendemos a clamar pelas amarras e cavamos com mãos ansiosas o fosso que passamos a habitar. Não percebemos quão humilhante é a condição que assumimos e seguimos servis diante de aviltante descaso. Eis que um dia o amor-próprio força a entrada e somos retirados dessa prisão sem chaves, sem grades e sem muros... Percebemos então que a liberdade sempre esteve ao nosso alcance e que o medo de não sermos amados foi o que nos deteve, fazendo de nós escravos. (Ana Paula, 16/06)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

CRÔNICAS DE UMA CEARENSE EM GYN (PARTE XIV)



EPISÓDIO DE HOJE: COMO CONVERTER O WOLVERINE EM TOY STORY

Cerca de duas semanas atrás, depois de levantar resignada para mais uma odisseia proletária, segui no alto da minha ankle boots para mais um típico dia repleto de sintaxes e correções. Depois de estacionar meu possante na quadra onde está localizado o centro do saber no qual exerço meu papel como base da pirâmide social, eis que um movimento estranho chamou minha atenção. 

Guiando uma motocicleta (negra como as intenções que nutria) um ser de conduta suspeita (vulgo “meliante”) diminui ameaçadoramente a velocidade quando me avistou portando uma maxi bolsa rosa pink digna do mais nobre catálogo da Carmen Steffens. Sua expressão mudou e os olhos ganharam o brilho atroz da ganância. Imediatamente tomei uma resolução: ele não furtaria o item mais flúor da minha coleção pessoal. Saí em disparada, saltos ecoando no asfalto da manhã. 


Num lance de absoluta covardia, o dito safardana avançou em minha direção a fim de me atropelar e assim minar qualquer resistência. Nos breves instantes que seguiram, a vida passou diante dos meus olhos como um filme (hollywoodiano, claro, Afinal, se tratando da MINHA vida não poderia ser diferente). Fui lançada ao chão e senti as unhas do delinquente rasgando a minha carne para arrancar o artigo de tão árdua disputa. Mesmo ciente dos riscos, munida da coragem nordestina herdada de meus ancestrais do cangaço (da espécie conhecida taxonomicamente como Homo virgulinus sapiens arretadus), resisti bravamente e, depois de várias tentativas frustradas, o marginal lançou um intimidador olhar que foi por mim retribuído com o mesmo nível de hostilidade. Aproveitei uma breve vacilação e corri (não sem antes ostentar para meu adversário o ar de superioridade típico daqueles que alcançam a vitória). 


Ainda hoje tenho as marcas do Wolverine nos braços, mas estou certa de que fiz valer o que escreveu Euclides da Cunha: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Para o fascínora usurpador de bens peruísticos alheios, diria (se oportunidade houvesse): evite confrontar os herdeiros de Lampião. Quando a cabeça da vítima em potencial for chata, volte duas casas e tente outra vez. Afinal, como sabiamente proclamou Patativa do Assaré, somos filhos do Nordeste, somos cabras da Peste, somos do Ceará. Por fim, em bom cearês: “Não bote boneco, num se bula, nem faça mugango...Se me arreliar já sabe: arranco o chaboque do dedo, enfio a peixeira no bucho e boto o fato pra fora, seu mundiça!”. Entendeu ou quer que eu desenhe riscando com a faca no concreto? Ôxe!



(ANA, 20/05)