terça-feira, 4 de março de 2014

MARIA DO BAIRRO NO DIVÃ: RECONHEÇA-SE!

(http://www.fabulasecontos.com.br/?pg=descricao&id=300)

Hoje refletia sobre o conto “O espelho”, de Machado de Assis. Nele, o arguto escritor fala sobre a existência de duas almas: uma interior e outra exterior. E, em dado momento da narrativa, expõe que nossa alma exterior é, em certa medida, volúvel, mutável e migra de destino. Podemos ressignificar nossa essência num objeto (materialismo das ambições humanas) e, por vezes, transferi-la para outra pessoa (hipersensibilidade emocional??). Quão perfeito é esse raciocínio!

Muitos são os momentos em que nos esvaziamos e atribuímos ao outro o sentido da nossa existência e a possibilidade única de felicidade. Nesse processo, negligenciamos nosso corpo e nosso espírito. E, se o detentor da nossa “alma exterior” decide partir, tal como Jacobina (personagem machadiana), nosso reflexo se torna turvo e apenas na lembrança de momentos idos (e não mais vivenciados) somos capazes de enxergar uma vez mais nossa autoimagem.

Nosso organismo se deteriora, pois não dedicamos a ele a atenção de que necessita e, assim, nos boicotamos e, pouco a pouco, fenecemos. Urge, pois, que nossa alma exterior, bem como a interior habitem o invólucro que tão misericordiosamente nos foi concedido por Deus. Eis a lógica daquilo que conhecemos como “AMOR PRÓPRIO”. Repudie pensamentos negativos, comparações, autodepreciação, inseguranças, depressão e ansiedade. Seja um obstinado combatente da exalação contínua da alma exterior e, acima de tudo, não a perca! O próprio Machado alerta: "...casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira". Preservando-nos garantiremos que, ao mirarmos o espelho, veremos imagens especulares e não fantasmas de nós mesmos e escárnios de lembranças...