terça-feira, 27 de agosto de 2013

Crônicas de uma cearense em Gyn

Episódio de hoje: Meu momento "dãnnnnnnnn"



Passei de carro em uma rua movimentada e vi um belo prédio ostentando a seguinte faixa: PROMOÇÃO - HIDRATAÇÃO, CORTE E UNHAS POR R$ 20,00. Meus olhos marejaram de emoção, vislumbrei uma tarde de beleza e decidi repetir o percurso no dia posterior, anotar o número do telefone e marcar uma hora. Qual não foi minha surpresa quando, na manhã seguinte, percebi que mais um item integrava a tal "promoção": limpeza de ouvido (aí pensei: "uai, mas isso eu sei fazer sozinha!"). Desconfiada, olhei para a fachada e, finalmente, desvendei o mistério... Tratava-se de uma loja pet shop!!!!!! Já pensou? Como diria a saudosa agremiação de intelectuais do Bonde do Tigrão, isso que é levar a expressão "só as cachorras" ao pé da letra. Enfim... Alegria de pobre dura pouco! #chateada!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

AVANTE, NAÇÃO FELICIANA!

Acabei de visitar o website oficial do Pr. Marco Feliciano e, passado o estarrecimento inicial, admito que minha língua viperina PRECISA entrar em ação. Na biografia do dito “representante do povo” são narrados lances dramáticos (ainda infante o pobre moçoilo foi vendedor de picolé e ganhou uma caixa de engraxate no sétimo aniversário – que dó!). No futuro, quando transformarem essa história em roteiro cinematográfico ou minissérie da Rede Record , sugiro que optem por cenários de papelão e dublagens atrasadas para melhor inserção no universo folhetinesco mexicano. Melhor do que isso só os atributos dados a Feliciano (“possuidor de caráter íntegro e reto”, “dono de uma inteligência admirável”, “líder nato, eloquente e ousado”, “caracterizado pela simpatia pessoal e pela simplicidade de trato com os demais”). Por fim, um defensor incansável de profundas convicções humanísticas (U-A-U!). Confesso que, após uma exposição de tão grandioso perfil, serei obrigada a admitir minha pequenez e lamentar a falibilidade humana que me constitui. Talvez por ser a síntese de tamanha perfeição, o nobre deputado encare como patologia toda e qualquer orientação distinta(?) da sua. A “Cura Gay” é, sem dúvida, a mais evidente prova do afinco do grande líder na construção da sociedade ideal. O projeto eugenista ariano cede espaço à ‘Nação Feliciana’. Uma nova ordem nacional (quiçá mundial) que oferecerá tratamento e cura aos homossexuais e às mulheres a chance de resgatar a sua digna condição de serva do marido. Antes que seja aprovada a “Cura Nordestina”, proponho uma imediata higienização inaugurada pela catalogação de toda a população dos nove estados por orientação religiosa, opção sexual e cor da pele. Assim, será facilitada a missão do virtuosíssimo Presidente da Comissão dos Direitos Humanos no processo de adequação, anulação ou extermínio dos 'doentes' e infiéis. Urge também que seja adotada uma saudação digna da magnitude do nosso mestre... Digamos, pois, em uníssono: - Heil Hitler! (ops!) - SALVE, PASTOR! (Ana Paula, 19/06)

O gigante acordou mesmo?

A tendência apocalíptica de alguns usuários das redes sociais me cansa... Já falam de "Estado de Sítio", impeachment da Presidente e até guerra civil. Não há a menor dúvida: são legítimos os protestos contra o alto custo dos transportes públicos, gastos excessivos com eventos esportivos e desvio de verbas. Entretanto, ao contrário do que muitos manifestam, não creio que a solução esteja na suspensão da Copa, tampouco no afastamento de Dilma. Bom seria se todos os problemas seculares relacionados à precariedade nos serviços de Educação e Saúde findassem de forma tão simples e imediatista. Portanto, antes de levantar bandeiras e reproduzir discursos de outrem, tenhamos o cuidado de analisar minimamente a lógica do que falamos. E, por favor, que não sigamos vendo a nossa realidade de forma superficial e tendenciosa. As redes sociais constituem um excelente espaço para debate, mas reproduzir posts sem compreender o conteúdo que veiculam inaugura um interessante tipo de ignorância política (e talvez a pior delas): as pessoas fingem que defendem aquilo que sequer compreendem. Como alertou o ensaísta Montherlant: a política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros. Logo, não curtir ou compartilhar ideias com as quais não coaduno, longe de evidenciar que sou "alienada" ou "burguesa" (faz-me rir!) é apenas uma forma de demonstrar que resguardo tão somente a mim a capacidade e o direito de eleger as paixões que me escravizam. #prontofalei!

segunda-feira, 17 de junho de 2013

Libertas quae sera tamen

Em certa altura da vida, quer por astúcia quer por instinto, percebemos que o sentimento não correspondido é um cativeiro. Nele somos encarcerados pelas nossas expectativas e lá permanecemos sofrendo às escuras. Vez por outra nos é concedida a graça de um encontro furtivo e agradecemos resignados por migalhas de atenção e de afeto. Acreditamos que as correntes que nos prendem são inquebrantáveis e encaramos com temor o futuro além das grades. Aprendemos a clamar pelas amarras e cavamos com mãos ansiosas o fosso que passamos a habitar. Não percebemos quão humilhante é a condição que assumimos e seguimos servis diante de aviltante descaso. Eis que um dia o amor-próprio força a entrada e somos retirados dessa prisão sem chaves, sem grades e sem muros... Percebemos então que a liberdade sempre esteve ao nosso alcance e que o medo de não sermos amados foi o que nos deteve, fazendo de nós escravos. (Ana Paula, 16/06)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

CRÔNICAS DE UMA CEARENSE EM GYN (PARTE XIV)



EPISÓDIO DE HOJE: COMO CONVERTER O WOLVERINE EM TOY STORY

Cerca de duas semanas atrás, depois de levantar resignada para mais uma odisseia proletária, segui no alto da minha ankle boots para mais um típico dia repleto de sintaxes e correções. Depois de estacionar meu possante na quadra onde está localizado o centro do saber no qual exerço meu papel como base da pirâmide social, eis que um movimento estranho chamou minha atenção. 

Guiando uma motocicleta (negra como as intenções que nutria) um ser de conduta suspeita (vulgo “meliante”) diminui ameaçadoramente a velocidade quando me avistou portando uma maxi bolsa rosa pink digna do mais nobre catálogo da Carmen Steffens. Sua expressão mudou e os olhos ganharam o brilho atroz da ganância. Imediatamente tomei uma resolução: ele não furtaria o item mais flúor da minha coleção pessoal. Saí em disparada, saltos ecoando no asfalto da manhã. 


Num lance de absoluta covardia, o dito safardana avançou em minha direção a fim de me atropelar e assim minar qualquer resistência. Nos breves instantes que seguiram, a vida passou diante dos meus olhos como um filme (hollywoodiano, claro, Afinal, se tratando da MINHA vida não poderia ser diferente). Fui lançada ao chão e senti as unhas do delinquente rasgando a minha carne para arrancar o artigo de tão árdua disputa. Mesmo ciente dos riscos, munida da coragem nordestina herdada de meus ancestrais do cangaço (da espécie conhecida taxonomicamente como Homo virgulinus sapiens arretadus), resisti bravamente e, depois de várias tentativas frustradas, o marginal lançou um intimidador olhar que foi por mim retribuído com o mesmo nível de hostilidade. Aproveitei uma breve vacilação e corri (não sem antes ostentar para meu adversário o ar de superioridade típico daqueles que alcançam a vitória). 


Ainda hoje tenho as marcas do Wolverine nos braços, mas estou certa de que fiz valer o que escreveu Euclides da Cunha: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Para o fascínora usurpador de bens peruísticos alheios, diria (se oportunidade houvesse): evite confrontar os herdeiros de Lampião. Quando a cabeça da vítima em potencial for chata, volte duas casas e tente outra vez. Afinal, como sabiamente proclamou Patativa do Assaré, somos filhos do Nordeste, somos cabras da Peste, somos do Ceará. Por fim, em bom cearês: “Não bote boneco, num se bula, nem faça mugango...Se me arreliar já sabe: arranco o chaboque do dedo, enfio a peixeira no bucho e boto o fato pra fora, seu mundiça!”. Entendeu ou quer que eu desenhe riscando com a faca no concreto? Ôxe!



(ANA, 20/05)

domingo, 19 de maio de 2013

ALÉM DO VÉU



Desperdiçamos tanto sentimento com aqueles que não estão dispostos a recebê-lo, que, muitas vezes, nos sentimos exaustos, drenados e fatalistas diante do futuro. Passamos a visitar costumeiramente o limbo onde jazem nossos amores mortos, choramos novamente as lágrimas da perda e cobrimos o rosto e o coração com as negras vestes da viuvez. Entretanto, mesmo o mais lastimoso réquiem² precisa findar um dia.

A vida não se alimenta da morte e a felicidade tampouco pode ser nutrida pelas frustrações e dores advindas de histórias que já pereceram. Devemos reconhecer o momento de ir, de deixar para trás aquilo que já não reluz. A esperança há de transparecer sob o véu da desilusão. Afinal, as lembranças de momentos vividos ocupam a mente, mas não preenchem um coração. Que não sejamos, pois, cadáveres vagando sem norte por uma existência perdida.
(Ana, 19/05)

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Polêmica no ar: Bolsa Crack



Resolvi participar de um fórum de debates sobre a criação do Cartão Recomeço (apelidado Bolsa Crack). Mesmo reconhecendo um sem-número de ressalvas no projeto, confesso que fiquei estarrecida com as declarações feitas pelos participantes. Por isso, faço questão de transcrever as “pérolas” e as considerações que fiz diante de cada uma delas. 
PÉROLA 1: “VÃO FAZER FESTA DO APÊ COM O DINHEIRO DOS NOSSOS IMPOSTOS”.
Para os censores tributários de plantão vale um esclarecimento: o dinheiro não será dado ao usuário ou à sua família. O repasse ocorrerá do cofre público para as instituições de cadastradas, que serão fiscalizadas continuamente. Não tem caráter de “renda”, logo não deve ser desviado da sua finalidade.
PÉROLA 2: “ACHO INJUSTO. OS CIDADÃOS DE BEM SOFRENDO E ESSES DROGADOS GANHANDO BOLSA ‘NO MOLE’ DESSE JEITO?”

O Poder Público não está premiando o vício, mas sim fazendo valer o seu papel na assistência à população. Afinal, as verbas públicas não são destinadas apenas aos “homens de bem” (categoria utópica cada vez mais esvaziada, já que resulta da autopromoção hipócrita da qual se valem aqueles que desejam estabelecer uma clara distinção valorativa em relação ao outro). O direito à dignidade humana deve existir para todos e cabe ao governo, em suas mais distintas instâncias, promover as condições para que a cidadania seja vivenciada em sua plenitude.

PÉROLA 3: “NÃO VAI ADIANTAR NADA”.
Obviamente, a desintoxicação é apenas o começo. O projeto tem caráter emergencial e não excluí a necessidade de mais investimentos no combate ao tráfico, bem como a criação de programas de profissionalização e reinserção no mercado de trabalho (para diminuir os índices de reincidência) e um acompanhamento familiar a fim de que o indivíduo persista sem retornar ao vício.
PÉROLA 4: “PENSO QUE ISSO É UM ABSURDO. A PESSOA ESTÁ NESSE MUNDO POR QUERER. ESCOLHA DELE, ENTÃO QUE SE CUIDE”.
(Se essa lógica imperasse, deveriam ser entregues à própria sorte aqueles que tentaram suicídio já que eles escolheram abrir mão da própria vida, certo?). Precisamos reconhecer que a dependência química é uma DOENÇA progressiva e potencialmente fatal. Além da devastação física e emocional, os usuários de drogas têm mudanças de comportamento que podem levá-los à insanidade e à práticas criminosas. É considerada multifacetada, pois atinge o indivíduo em corpo, mente e espírito. Ainda que a primeiro contato com a droga seja uma questão de escolha, a condição de vulnerabilidade do usuário frente ao vício exige uma intervenção externa e um tratamento contínuo e oneroso (que muitas famílias não têm condições de custear).
PÉROLA 5: “VOU COMEÇAR A USAR UMAS PEDRAS, TÁ LOUCO? 1.350 PILAS POR MÊS!
Não é necessário usar “umas pedras”. Afinal, nessa fala há um claro exemplo de uso do ópio mais alucinógeno de todos: a ignorância.
Por fim, a intervenção mais insólita... E o troféu “Anta de Ouro” vai para:
“ELES (os pobres) VÃO TER FILHOS E DROGÁ-LOS DE PROPÓSITO”.
------ Hãm? Acuma? #chocada
Saí então temporariamente da discussão para resguardar um pouco da minha crença no bom senso alheio... Mais tarde tem mais!

quarta-feira, 1 de maio de 2013

CRÔNICAS DE UMA CEARENSE EM GYN - PARTE XIII


Episódio de hoje - Lombada: o abstêmio! 



No ano de 2013, foi regulamentada a resolução 432/13 (nova lei seca) e a comoção gerada pela tal “tolerância zero” pôde ser percebida nos mais recônditos cantos de Goiânia. Enquanto taxistas e abstêmios de plantão ostentaram o mais largo sorriso, donos de bares e papudinhos¹ em geral se entregaram ao derradeiro porre, ainda inconformados com a ideia de abrir mão da dose costumeira (para alguns, diária) de derivados da cana...

Visando cumprir sua função social e tendo em vista a condição de plena cidadania da qual goza, André Lima (vulgo “o lindo”), fiel escudeiro das Blondes, resolveu testar a eficácia da fiscalização empreendida pelos órgãos competentes. Para tanto, disfarçado de meliante nosso amigo adotou uma postura propositadamente suspeita.

Enquanto guiava sua pick-up, o destemido cidadão ligou o som no mais alto volume e enquanto escutava uma digna sequência de músicas sertanejas, saiu à caça das “blitzes” goianienses. Depois de vinte minutos da mais árdua busca, encontrou a primeira barreira nos arredores da Beverlyn Hills (destino costumeiro da high society). Apesar da poluição sonora, não foi barrado (teve inclusive a impressão de ter visto um dos guardas balançando a cabeça ao som do Bará Berê).

A decepção o dominou, entretanto, seguiu intrépido. Mudou a trilha e associou um elemento ainda mais incriminador: uma latinha vazia no painel do carro. Mais uma vez atravessou incólume a segunda barreira. O mesmo ocorreu na terceira e na quarta. No auge do desespero, pôs a cabeça fora da janela e gritou "pegadinha do malandro". Um guarda sorriu e o deixou seguir (provavelmente para premiá-lo por ter alegrado uma tediosa rotina de trabalho). O consciente motorista (que durante toda a noite cuidou apenas de beber água e suco para hidratar o organismo), falhou no seu intento de comprovar a própria sobriedade e, assim, figurar como garoto-propaganda do Detran nas redes sociais.

Fez-se, pois, verdade o pensamento de Elanklever: “O preço da confiança, é ser veladamente o primeiro suspeito”. Em outras palavras, não raras vezes quanto mais incriminadora é a sua postura, menor é o risco que você parece oferecer. Aprendeu, André Lima?

1. Papudinho - Maneira como o cearense chama a pessoa que bebe muito.
-Lá vem o papudinho, não consegue nem ficar em pé !

Minha trilha...






De nada adianta tentar tornar menos íngreme o caminho. Afinal, há passagens do percurso que, mesmo arriscadas e distantes da chegada, despertam em nós o desejo de andar em círculos indefinidamente. Além disso, as perdas longe de tornarem leve a bagagem apenas nos fazem questionar se vale a pena percorrer até o fim. Digo, pois, convicta: trilharia descalça e de bom grado o mais pedregoso terreno se hoje pudesse mudar a rota do destino e ter de volta o que ficou pela estrada... Resta-me apenas seguir caminhante, quebrando pedras, resistindo aos espinhos e desviando dos perigosos atalhos, mesmo vacilante e a trôpegos passos. Pessoa¹, é chegado o tempo da travessia! 
(Ana, 19/03/2013)

Ameno dori me





O momento mais difícil não é o da perda,
E sim o instante seguinte,
Quando procuramos, não encontramos
e enfrentamos a realidade de que nunca mais teremos!

(Ana, 14/03/2013)

Abandone ilusões. Arquitete realidades.







Não é incomum enaltecermos pessoas medíocres e darmos à histórias falidas e obsoletas as vestes de nossos devaneios. Deixamos que a ilusão obscureça nosso discernimento e alicerçamos sonhos em terrenos movediços. A ânsia pela perfeição do que buscamos é tão intensa que, mesmo diante do desvendamento da verdade, nos rendemos a um apego teimosamente persistente. 
Um dia, contudo, o encantamento se desfaz. Passamos a ver a pequenez e o vil caráter daquele que antes era o detentor da nossa cega paixão. Eis o momento da epifania. É chegado o instante da libertação. Não lamente os projetos não realizados. Sinta-se grato à Providência Divina. Afinal, como sabiamente enunciou o poeta francês Sébastien-Roch Chamfort: "o prazer pode apoiar-se na ilusão, mas a felicidade repousa sobre a realidade..." 


Nem Chapeuzinho Vermelho, nem Lobo Mau




Diante do nosso mundinho maniqueísta e hipócrita, todos querem ser nobres. Pregam o altruísmo, reafirmam suas raízes e "vomitam" virtudes como se a mera menção de princípios os tornasse reais. Você esbarra na superfície de gente assim e pensa ter encontrado alguém raro. Entretanto, já adverte a sabedoria popular "nem tudo que reluz é ouro, nem tudo que brilha é diamante". Desconfie de pessoas boas demais, simpáticas ao extremo, benevolentes até a última instância. Não são normais (nem reais) personalidades "redondas', uniformes, transparentes e puras.

Não sugiro com isso que sejam escamoteadas qualidades, tampouco prego a inexistência da solidariedade humana. Apenas alerto para o falseamento reinante e a proliferação de criaturas excessivamente virtuosas. Não defendo a descrença e sim a prudência.

Afinal, o verdadeiro bom-caratismo não precisa ser alardeado. Ele emana das ações e pronto. E vou além: quem associa a própria imagem à bondade, mas não a pratica NÃO É BOM! Simples assim. Não esqueçamos que, como bem enunciou Shakespeare, até mesmo o diabo pode citar as Escrituras quando isso lhe convém. (Ana) 

Para bellum*





Pensava (erroneamente) que um campeão era aquele que colecionava conquistas e burlava adversidades. Hoje sei que a verdadeira vitória resulta muito mais da capacidade de transformar perdas em pedaços vivificados de fé. Os melhores combatentes não ostentam armaduras bem lustradas, tampouco estão constantemente de armas em punho. Os corajosos enfrentam a vida de peito nu e insistem em acreditar mesmo quando as probabilidades sugerem a impossibilidade do êxito. 

Grandes guerreiros desprezam o medo, mas conservam a prudência; lamentam as perdas, entretanto reconhecem o momento de enxugar as lágrimas e inaugurar novas batalhas; não subestimam os adversários, contudo sabem que acima das forças adversas está a estranha capacidade de regeneração que apenas os espíritos fortes possuem.

Aprendi, por fim, que, muitas vezes, sedimento minha ruína, subestimo minhas potencialidades e boicoto projetos por receio das falhas que possa vir a cometer. Sou, portanto, minha própria inimiga. Sempre temi os golpes. Agora tenho orgulho das minhas cicatrizes. Uso, pois, as dores para compreender a dimensão da minha força e evito lutar por quem não merece o risco e o desgaste do combate.

(Ana, 29/04)

*Referência o provérbio "Si vis pacem, para bellum" (se quer paz, prepare-se para a guerra), do autor latino Publius Flavius Vegetius Renatus.

Na "vibe" Tedesco!



Antes de encarar qualquer problema, fique frente a frente com você mesma. Veja mais do que´o reflexo do seu espelho pode projetar. Reconheça, além da sua imagem, a mulher virtuosa, divertida, inteligente e articulada que Deus criou e que aprimora dia a dia. Personifique um modelo de superação. Faça o que ninguém vai poder fazer no seu lugar: AME-SE SEM RESERVAS! Porque você merece ser absurdamente feliz (e será). Mesmo que o percurso pareça difícil e as expectativas, por vezes, desanimadoras. Garota, ponha seu melhor vestido, escolha o mais digno salto, passe um batom vermelho, ostente um indefectível sorriso e repita como um mantra: "cara, eu sou gata pra caramba!" Saiba que sua capacidade e força são infinitamente superiores a quaisquer adversidades que surjam. Vista a sua armadura, mas não endureça o seu coração. Afinal, como proclama a máxima freudiana, somos de carne, mas devemos viver como se fôssemos de ferro. Seja firme. Enxugue as lágrimas. Erga a cabeça. Mantenha a fé. O medo é o inimigo... Vença-o!
(Ana, 22/04)

domingo, 14 de abril de 2013

PAPO DE MULHER PARA MULHER






Em certa oportunidade, ouvi que cada mulher tem a vida amorosa que deseja possuir. Inicialmente, fiquei possessa e completamente desconcertada (em especial, quando resgatei do “limbo da memória” meus fantasmas e frustrações). Entretanto, hoje admito: FATO! As dores e decepções que enfrentamos, em grande parte, resultam da forma descuidada com a qual lidamos com nossos sentimentos.

Garimpamos qualidades em pessoas muito aquém das nossas expectativas e nos permitimos viver pseudorrelacionamentos no temor de permanecermos sós. Há ainda ocasiões nas quais, diante do desencanto da busca (ou odisseia) pelo amor, “vomitamos” o falso discurso de autossuficiência e tentamos convencer o mundo (e a nós mesmas) de que a condição de “solterice” é escolha, quase uma filosofia de vida (sustentada por manuais de autoajuda e psicólogos de talk show). Ostentamos sorrisos de superioridade enquanto, no íntimo, seguimos frágeis e dilaceradas.

Vejo diuturnamente aqui nas redes sociais publicações sobre a vilania masculina, entretanto, garotas, admitamos: OS HOMENS FAZEM CONOSCO AQUILO QUE NÓS PERMITIMOS. Vamos, pois, abandonar a vitimização e encara a verdade: somos nossos próprios algozes. Golpeamo-nos quando buscamos justificativas para os erros do outro, lemos as atitudes mais corriqueiras como grandes declarações de amor eterno e insistimos em acreditar nos enredos folhetinescos que insistem na fórmula: mocinha boa + galã virtuoso = final feliz.

Mesmo a paixão cegando nosso discernimento, há sempre um lapso de lucidez que nos faz perceber quando uma história foi feita para não durar e a insistência (nesses casos) é imprudência muito mais do que sinal de coragem. Podemos desfilar qualidades diante dos olhos do moçoilo, atender a todas as predileções dele e adaptar aparência e gostos ao que apetece ao nosso par e, mesmo assim, o mais provável e que o percamos (e nos percamos) no caminho. Fatalismo? Não. Experiência de vida.

Príncipes encantados e amores perfeitos são ilusórios. O que realmente existe são pessoas dotadas de qualidades e defeitos, que buscam incessantemente a felicidade. Quando uma das partes não demonstra pré-disposição para fazer dar certo, a possibilidade de êxito praticamente inexiste e, se a relação está moribunda e decidimos tentar repetidas vezes, devemos reconhecer no derradeiro dia que a falha também é nossa por não termos a sapiência de aceitar que nem sempre o que desejamos conquistar é aquilo que nos convém. Por fim, perseverar demasiadamente em amorés falidos só aumentará o peso do insucesso.

Em outras palavras: "Insistir naquilo que já não existe, é como calçar um sapato que não te cabe mais ! Machuca, causa bolhas, chega à carne viva e sangra ... Então melhor é ficar descalça . Deixar livre o coração , enquanto vive ... Deixar livre os pés , enquanto cresce ... Porque quando a gente cresce o número muda!"

Hoje sei. Meu número já mudou. E o seu?

(ANA, 14/04/2013)

terça-feira, 26 de março de 2013

MARIA DO BAIRRO NO DIVÃ

TEMA DE HOJE: GOODBYE, ALICE!




Nada dói mais do que o abandono. Quando nos voltamos para alguém e suplicamos “me dê a sua mão”, esperamos que o outro (ainda que não motivado pelo amor, mas impelido pela natural solidariedade humana) parta em nosso socorro, pois temos o estranho hábito de pautar nossas expectativas em relação aos demais a partir daquilo que faríamos se ocupássemos o mesmo lugar. Ledo engano. 

Decepcionamo-nos porque o julgamento que fazíamos do nosso par cai por terra. Afinal, a fantasia forja a ideia de que o objeto do nosso afeto sempre será virtuoso, solidário, nobre e generoso. Consternador é perceber que essa imagem se desfaz nas brumas da realidade. Como compôs a cantora e poetisa estadunidense Jewel, o mais provável é que nossos anseios apenas representassem o reflexo de nossas mentes solitárias querendo o que faltava em nossas vidas. 

O sofrimento advindo dessa percepção é viciante. Embora saibamos que precisamos abandonar a desolação – já que a felicidade é questão de atitude e não mera dádiva concedida pelo destino- não raras vezes prolongamos indefinidamente nossos lamentos e ostentamos a autocomiseração como bandeira. Queremos de volta a utopia, mesmo sabendo da sua insustentabilidade diante daquilo que já experimentamos. E o pior de tudo? Percebemos que a paixão se mantém apesar de retirado o véu da idealização.

Lutamos em vão numa tentativa de seguir associando a existência à perfeição dos mais belos sonhos. Entretanto, a verdade já foi descortinada e as antigas quimeras estão mortas. Fato: os corações virtuosos estão cada vez mais raros e, provavelmente, os poucos existentes são submetidos aos mesmos desencantos que nos acometem. Resta-nos preservar (embora precariamente) a nossa essência. Precisamos dar adeus à Alice, mas seguir trilhando a “estrada de tijolos amarelos” em busca de um frágil e breve, contudo, único e genuíno estágio de êxtase... Apesar de adversa e cruel, a realidade pode vir a superar as lindas mentiras que sustentaram nossos castelos de ilusões. Que a esperança no porvir também não nos desampare!

segunda-feira, 18 de março de 2013

Sobre o vazio que você deixou...



A essência da despedida é a dor, mesmo quando dizemos adeus ao que não se realizou. Afinal, as expectativas que nutrimos também ganham vida e são continuamente fortalecidas pela nossa boa fé. Por isso, é lícita a tristeza e compreensível a saudade pelo que poderia ter sido. Amarga é falta dos afagos jamais dados e a ausência do calor nunca sentido... Eis a morte do sonho, o apagamento de um porvir... Uma separação tão dolorosa que, se possível fosse, tal como versou Shakespeare, eu diria “boa noite” até que amanhecesse o dia... (Ana)

♥ I miss you, angel! ♥

domingo, 3 de março de 2013

CRÔNICA DE UMA CEARENSE M GYN (PARTE XII)


Episódio de hoje: Quem nasce para rei nunca perde a arrogância...


 


Dias desses, uma bem intencionada amiga resolveu movimentar a minha vida sentimental. Para tanto, a caridosa alma realizou uma triagem entre familiares, amigos e conhecidos e, depois de cuidadosa análise, declarou que já tinha em mente a pessoa perfeita para ser a minha alma gêmea, a metade da laranja, a tampa da panela e todas as demais associações ridículas que costumam fazer aos casais. 
Uma vez convocada, iniciei a "Operação Macgaiver" de resgate da autoimagem potencializada. Uma hora depois, eu já estava no meu mais digno look. Entretanto, as expectativas foram infinitamente superiores à realidade e gastei pancake e sais de banho à toa...
 O moçoilo provou ser possuidor de uma  empáfia muito maior do que seu charme. Ele já começou a conversa falando quatro vezes o sobrenome (para jogar na minha cara o próprio pedigree). Em contrapartida, embora eu tenha dito o meu nome mais de uma fez, fui insistentemente tratada por "minha linda" e "coração". Quando falei a minha profissão,  fui "agraciada" com um olhar de lástima e, compadecido, o bem amado disse:
- Entendo. Toda profissão é digna, mesmo as menos valorizadas...
As trombetas do Apocalipse foram a trilha sonora desse momento. Mesmo diante de um olhar de advertência que intimidaria o mais corajoso gladiador em pleno Coliseu,  fui ainda premiada com outras pérolas, dentre as quais destaco: 
- Você sente muita saudade de Recife, 'anjo'? 
- Não sou de Pernambuco!!!! Falei para você que sou cearense!!!!
- Verdade. Mas e daí né, 'lindinha'? É tudo Nordeste, praia e tapioca.
Após rir (solitário) da própria piada, o boy magia sacou seu Galaxy S3 para mostrar fotos da casa de campo da família e registros ao lado de cantores e políticos goianos. Falou de novo o sobrenome e, quando percebeu meu pouco caso, disse em tom de revolta:
- Uai, moça! Nunca ouviu falar da minha família? Somos tradicionais aqui em Goiânia. Pessoas de muita influência.
A tênue linha que mantinha meu compromisso com a bondade rompeu e disparei então:
 - Moço, eu não sou de Goiânia. Daqui só conheço os astros da música regional. Você forma dupla sertaneja com um dos seus irmãos?
- Não.
- Não? Está explicado. Por isso não sei quem você é!
 Resultado: foi o encontro mais breve da história da “xavecação” goianiense. Parti aliviada para o meu lar proletário. E o garboso rapaz? Depois de não ter sua estirpe reconhecida e aclamada, podemos assim definir o seu estado: #chateado!