EPISÓDIO DE HOJE: COMO CONVERTER O WOLVERINE EM TOY STORY
Guiando uma motocicleta (negra como as intenções que nutria) um ser de conduta suspeita (vulgo “meliante”) diminui ameaçadoramente a velocidade quando me avistou portando uma maxi bolsa rosa pink digna do mais nobre catálogo da Carmen Steffens. Sua expressão mudou e os olhos ganharam o brilho atroz da ganância. Imediatamente tomei uma resolução: ele não furtaria o item mais flúor da minha coleção pessoal. Saí em disparada, saltos ecoando no asfalto da manhã.
Num lance de absoluta covardia, o dito safardana avançou em minha direção a fim de me atropelar e assim minar qualquer resistência. Nos breves instantes que seguiram, a vida passou diante dos meus olhos como um filme (hollywoodiano, claro, Afinal, se tratando da MINHA vida não poderia ser diferente). Fui lançada ao chão e senti as unhas do delinquente rasgando a minha carne para arrancar o artigo de tão árdua disputa. Mesmo ciente dos riscos, munida da coragem nordestina herdada de meus ancestrais do cangaço (da espécie conhecida taxonomicamente como Homo virgulinus sapiens arretadus), resisti bravamente e, depois de várias tentativas frustradas, o marginal lançou um intimidador olhar que foi por mim retribuído com o mesmo nível de hostilidade. Aproveitei uma breve vacilação e corri (não sem antes ostentar para meu adversário o ar de superioridade típico daqueles que alcançam a vitória).
Ainda hoje tenho as marcas do Wolverine nos braços, mas estou certa de que fiz valer o que escreveu Euclides da Cunha: “O nordestino é, antes de tudo, um forte”. Para o fascínora usurpador de bens peruísticos alheios, diria (se oportunidade houvesse): evite confrontar os herdeiros de Lampião. Quando a cabeça da vítima em potencial for chata, volte duas casas e tente outra vez. Afinal, como sabiamente proclamou Patativa do Assaré, somos filhos do Nordeste, somos cabras da Peste, somos do Ceará. Por fim, em bom cearês: “Não bote boneco, num se bula, nem faça mugango...Se me arreliar já sabe: arranco o chaboque do dedo, enfio a peixeira no bucho e boto o fato pra fora, seu mundiça!”. Entendeu ou quer que eu desenhe riscando com a faca no concreto? Ôxe!
(ANA, 20/05)








