Recentemente, fui advertida por
tecer comentários sobre “50 tons de cinza” e, tendo em vista a minha natureza
subversiva, resolvi voltar ao assunto e estender as minhas considerações.
Aqueles que buscam um enredo bem engendrado devem fugir da trilogia de E.L.
James. Sinceramente não compreendo o estardalhaço criado em torno desses livros.
Há quem veja na natureza atormentada de Christian Grey e nas reações de
Anastasia Steele um exemplo chauvinista de submissão. Considero isso uma
falácia. Em tempos líquidos (nos termos de Bauman), quando nada é feito para
durar, a ideia de um homem forte, apaixonado e protetor é um verdadeiro ópio
para a mente feminina. Na prática, considero a obra moralista. Nela um indivíduo,
que é a súmula do pecado na descrição e nos atos, projeta na conduta sexual os
traumas vividos na infância. É a sensação do controle que o convence de que não
voltará a ser indefeso e impotente como no passado. O sentimento que nutre pela
jovem Ana, entretanto, desnuda sua fragilidade e as tão propaladas passagens ‘apimentadas’
se tornam cada vez menos frequentes na narrativa. Eis que surge o amor como redenção, libertando o protagonista de seus medos e traumas (nada mais romântico e piegas). Por fim, até mesmo
a presença constante do sexo na narrativa não pode ser encarada como algo
estarrecedor. Garanto que Anne Rice (ou Anne Rampling) com suas incursões no
mundo sobrenatural delineia uma tensão sexual muito mais latente e ainda aborda
em seus romances temas, tais como: homossexualismo, ateísmo, imortalidade e
vaidade. Logo, diante de outras obras –menos badaladas pela mídia e aclamadas
pelos círculos literários- os “50 tons” perdem a obscuridade e ganham a aura
encantadora das cores do arco-íris.

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