(Imagem disponível em http://www.becodaspalavras.com/2012/08/11/a-letra-escarlate.
Acesso: jan. 2013)
Recentemente,
fui surpreendida com a inquietante pergunta: “em que tipo de mulher você se
enquadra?”. Encarei essa dúvida como uma grande ofensa. Afinal, sempre achei
que meus atos e palavras denotassem claramente a minha natureza. Entretanto,
passada a raiva inicial, compreendi que tal questionamento é compreensível. Ele
decorre da necessidade que todos temos de categorizar as coisas e as pessoas, a
fim de simplificá-las e melhor compreendê-las (ou controlá-las).
O
senso comum promove a existência de supostas dicotomias femininas: adequadas x
inadequadas, sérias x fáceis, aquelas que são para casar x aquelas que são para
curtir, moças de família x periguetes, cachorras x princesas... Muitos nomes
que sustentam a distorcida lógica chauvinista (muitas vezes proclamada por
mulheres), que atribui ao homem o poder de analisar, medir, julgar e selecionar
o papel de cada mulher nas relações que estabelece.
Interessante
é observar os “critérios” usados para designar os “tipos”. Certa vez, ouvi um
homem dizer que reconhecer uma “periguete” é uma tarefa fácil. Segundo o dito
“especialista”, os indícios são: unhas vermelhas, cabelos pintados e brincos
grandes. Na ocasião, minhas unhas ostentavam um encarnado vivo (Luxúria, da
coleção Colorama), minhas madeixas recém-retocadas ofuscavam a visão alheia com
seu tom “loiro Malibu” e os brincos que usava faziam minha cabeça pender para
os lados em decorrência do peso das pedras que o compunham. Conclusão:
periguetagem em nível máximo! Veredicto; CULPADA!
Naquele
momento, senti que incorporava a jovem Hester Prynne (do livro de Nathaniel
Hawthorne) que, uma vez desonrada e renegada publicamente, é obrigada a levar sempre a
letra “A” bordada em seu peito. Ops... Esperem aí!!!! De acordo com a lógica
vigente, eu nem deveria ler, muito menos conhecer um clássico da literatura
norte-americana. Afinal, “periguete” não perde tempo com livros, pois precisa
polir suas unhas de porcelana, malhar as coxas na academia, fazer bronzeamento
com esparadrapo, pentear seu mega hair, etc, etc...
Viu
só? A teoria carece de aplicabilidade. A hipótese inicial de categorização foi
derrubada já no terceiro parágrafo (nem precisei gastar muito do meu discurso,
nem clamar por misericórdia!). Só me resta voltar à pergunta que provocou a
produção desse texto... EM QUE TIPO DE MULHER ME ENQUADRO? A resposta é simples:
no tipo de mulher que não quer ser enquadrada, explicada, qualificada ou
quantificada. Não quero ser “entendida”, quero ser amada. Afinal, como bem
versou Clarice Lispector, entender é sempre limitado e não entender pode não
ter fronteiras.
Diante
dessa experiência, peço licença para falar com as únicas categorias envolvidas
que possuem verdadeira sustentação científica: homens e mulheres
(biologicamente determinados e socialmente constituídos).
Às
mulheres, eis o meu conselho: não pensem nas expectativas dos outros! Vivam segundo o seu código de conduta e
aquilo que consideram adequado de acordo com o seu discernimento. Não se
aprisionem, achando que sufocar seus anseios vai torná-las ”moças casadoiras”,
nem violentem os seus princípios para parecerem mais atraentes. Somente quem é
cônscio de sua própria essência está pronto para amar de forma plena e genuína.
Aos
homens, aqui vai um recado: uma mulher jamais será apenas o que sugere o seu
prólogo. Disponham-se a conhecê-la e não tentem encaixá-la em moldes
pré-definidos. Compreendam que abrir um espaço na vida dela foi um ato de
confiança e façam jus a isso. Não sejam levianos, nem causem uma defraudação
emocional apenas para disfarçar seus recônditos medos. Tenham sempre em mente
as palavras da escritora francesa Anaïs Nin: “a vida se expande ou se encolhe de acordo com a nossa
coragem”. Logo, estão nas suas mãos a dimensão e a plenitude do seu próprio
existir. Sigam confiantes, amem e sejam, assim, realmente merecedores de uma mulher!

Texto simplesmente maravilhoso!
ResponderExcluirA propósito, já vi o filme "A letra escarlate", mas não sabia que era baseado em um livro. Deve ser explêndido de se ler. É fácil encontrá-lo aqui?
ResponderExcluirPosso conseguir o livro para você. Conversaremos sobre isso em ocasião oportuna. Beijos.
Excluirperfeito!!!
ResponderExcluirObrigada.
ExcluirNem precisava explicar, quem lê o que você escreve já sabe a que nível pertence, como sempre excelente texto de muita qualidade, parabéns.!!!
ResponderExcluirGrata pela gentileza e atenção aos meus escritos.
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