quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

A LETRA ESCARLATE



(Imagem disponível em http://www.becodaspalavras.com/2012/08/11/a-letra-escarlate. Acesso: jan. 2013)


Recentemente, fui surpreendida com a inquietante pergunta: “em que tipo de mulher você se enquadra?”. Encarei essa dúvida como uma grande ofensa. Afinal, sempre achei que meus atos e palavras denotassem claramente a minha natureza. Entretanto, passada a raiva inicial, compreendi que tal questionamento é compreensível. Ele decorre da necessidade que todos temos de categorizar as coisas e as pessoas, a fim de simplificá-las e melhor compreendê-las (ou controlá-las).
O senso comum promove a existência de supostas dicotomias femininas: adequadas x inadequadas, sérias x fáceis, aquelas que são para casar x aquelas que são para curtir, moças de família x periguetes, cachorras x princesas... Muitos nomes que sustentam a distorcida lógica chauvinista (muitas vezes proclamada por mulheres), que atribui ao homem o poder de analisar, medir, julgar e selecionar o papel de cada mulher nas relações que estabelece.
Interessante é observar os “critérios” usados para designar os “tipos”. Certa vez, ouvi um homem dizer que reconhecer uma “periguete” é uma tarefa fácil. Segundo o dito “especialista”, os indícios são: unhas vermelhas, cabelos pintados e brincos grandes. Na ocasião, minhas unhas ostentavam um encarnado vivo (Luxúria, da coleção Colorama), minhas madeixas recém-retocadas ofuscavam a visão alheia com seu tom “loiro Malibu” e os brincos que usava faziam minha cabeça pender para os lados em decorrência do peso das pedras que o compunham. Conclusão: periguetagem em nível máximo! Veredicto; CULPADA!
Naquele momento, senti que incorporava a jovem Hester Prynne (do livro de Nathaniel Hawthorne) que, uma vez desonrada e renegada publicamente, é obrigada a levar sempre a letra “A” bordada em seu peito. Ops... Esperem aí!!!! De acordo com a lógica vigente, eu nem deveria ler, muito menos conhecer um clássico da literatura norte-americana. Afinal, “periguete” não perde tempo com livros, pois precisa polir suas unhas de porcelana, malhar as coxas na academia, fazer bronzeamento com esparadrapo, pentear seu mega hair, etc, etc...
Viu só? A teoria carece de aplicabilidade. A hipótese inicial de categorização foi derrubada já no terceiro parágrafo (nem precisei gastar muito do meu discurso, nem clamar por misericórdia!). Só me resta voltar à pergunta que provocou a produção desse texto... EM QUE TIPO DE MULHER ME ENQUADRO? A resposta é simples: no tipo de mulher que não quer ser enquadrada, explicada, qualificada ou quantificada. Não quero ser “entendida”, quero ser amada. Afinal, como bem versou Clarice Lispector, entender é sempre limitado e não entender pode não ter fronteiras.
Diante dessa experiência, peço licença para falar com as únicas categorias envolvidas que possuem verdadeira sustentação científica: homens e mulheres (biologicamente determinados e socialmente constituídos).
Às mulheres, eis o meu conselho: não pensem nas expectativas dos outros!  Vivam segundo o seu código de conduta e aquilo que consideram adequado de acordo com o seu discernimento. Não se aprisionem, achando que sufocar seus anseios vai torná-las ”moças casadoiras”, nem violentem os seus princípios para parecerem mais atraentes. Somente quem é cônscio de sua própria essência está pronto para amar de forma plena e genuína.
Aos homens, aqui vai um recado: uma mulher jamais será apenas o que sugere o seu prólogo. Disponham-se a conhecê-la e não tentem encaixá-la em moldes pré-definidos. Compreendam que abrir um espaço na vida dela foi um ato de confiança e façam jus a isso. Não sejam levianos, nem causem uma defraudação emocional apenas para disfarçar seus recônditos medos. Tenham sempre em mente as palavras da escritora francesa Anaïs Nin: “a vida se expande ou se encolhe de acordo com a nossa coragem”. Logo, estão nas suas mãos a dimensão e a plenitude do seu próprio existir. Sigam confiantes, amem e sejam, assim, realmente merecedores de uma mulher! 

7 comentários:

  1. A propósito, já vi o filme "A letra escarlate", mas não sabia que era baseado em um livro. Deve ser explêndido de se ler. É fácil encontrá-lo aqui?

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    1. Posso conseguir o livro para você. Conversaremos sobre isso em ocasião oportuna. Beijos.

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  2. Nem precisava explicar, quem lê o que você escreve já sabe a que nível pertence, como sempre excelente texto de muita qualidade, parabéns.!!!

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